Sobre o curso
A abordagem praxial, assumida como uma “nova filosofia” no ensino de música, questiona os princípios, valores e práticas cristalizadas, nomeadamente no ensino artístico especializado, replicando de forma acrítica a herança da Cultura Clássica do Conservatório.
Apesar da Música, enquanto “disciplina”, estar associada ao conceito de “Escola” e de Currículo desde a Antiguidade Clássica, não é sempre claro qual o seu papel e importância nos sistemas educativos modernos, levando à necessidade de uma luta permanente, por parte de músicos, professores e investigadores, para conseguir junto dos decisores políticos, os recursos necessários (mínimos) para manter esta área nos currículos escolares. No entanto, a proposta para este curso de formação parte também de um posicionamento muito crítico em relação às classes atrás referidas, assumindo que não foram capazes de desenvolver uma consciência crítica coletiva e de se adaptar às constantes mudanças individuais e sociais nas últimas centenas de anos de forma a reforçar o papel importante que a aprendizagem a e prática musicais podem ter na sociedade atual. Nesse sentido, o posicionamento assumido associa-se às questões levantadas por David Elliott em relação aos músicos e professores de música: “Seremos nós a causa dos nossos próprios problemas? Seremos os nossos maiores inimigos?”.
Objetivos
Como meta principal a atingir pelo curso de formação, pretende-se, em primeiro lugar, a abertura (gradual) dos professores para o questionamento das práticas enraizadas no sistema de ensino.
É esse processo de questionamento crítico, individual e coletivo, que se pretende despoletar que, de forma mais concreta, se manifesta na capacidade dos formandos de:
- Questionar as práticas tradicionais no ensino especializado de música, assumindo uma postura crítica sobre as suas próprias práticas;
- Questionar e projetar o papel da prática de conjunto (vocal e instrumental) na aprendizagem de música (no ensino especializado de música e em geral) e de que forma se pode articular com o ensino individual do instrumento e a formação musical;
- Assumir uma postura ativa através da experimentação de práticas nas suas realidades específicas;
- Desenvolver um pensamento crítico informado, possibilitando o contacto com formas alternativas de ensino de música, nomeadamente no âmbito do ensino não formal e informal;
- Reforçar a sua função como professores-investigadores, sendo capazes de lidar de forma crítica e construtivista com as populações com que se relacionam;
- Experiênciar e integrar um maior catálogo de práticas de abordagem à música de conjunto que promovam experiências formativas e artísticas significativas e relevantes para alunos e professores.
Programa
Existem duas partes distintas no curso:
Parte I – Introdução ao questionamento crítico no ensino de música em Portugal e à abordagem praxial como possibilidade para a prática e ensino de música.
Parte II – Desenvolvimento temático
A proposta para a organização das sessões é a seguinte:
Sessão 1|Apresentação e contextualização da Formação
|A Cultura Clássica do Conservatório e o ensino de música em Portugal
Sessão 2|Filosofia, Pedagogia Crítica e Construtivismo no ensino de música
Sessão 3|A abordagem Praxial no ensino e prática de música
Sessão 4|A “Escola” e o currículo
|Ensino Formal versus Não Formal e Informal
Sessão 5|Avaliação – Porquê avaliar? O que avaliar? Como avaliar?
Sessão 6|Temas a definir pelos participantes na formação
|Discussão final e balanço da formação
Metodologia
A formação irá recorrer a metodologias diversificadas: informativas, demonstrativas, exploratórias e ativas.
De acordo com o posicionamento filosófico defendido, também o formato seguido na formação deve privilegiar um diálogo efetivo entre formador e formandos, promovendo uma discussão a partir das experiências e visões de todos os participantes.
Por essa razão, em todos os módulos, após uma apresentação inicial da temática e das tensões e questões que suscitam, será promovida uma discussão aberta, valorizando um espaço dialógico de verdadeira liberdade de expressão que, só dessa forma, poderá levar a processos eficazes de transformação individual e sistémica.
Também neste sentido a abordagem praxial, que “exige” uma confrontação de todos com as suas próprias crenças, é praticada em contexto.
Destinatários
Diretores pedagógicos, professores, professores de música (atuais e futuros, de todos os níveis e tipos de ensino), músicos ou outras pessoas interessadas em conhecer abordagens alternativas à intervenção educativa na área da música.
Detalhes do curso
FORMADOR
João Costa
Frequência do 1º e 2º anos do Curso de Engenharia Civil (FEUP)
- Curso Superior de Violoncelo – Bacharel (ESMAE – IPP)
- Pós-Graduação em “Gestão e Implementação de Projetos no Âmbito das Atividades de Enriquecimento Curricular” (FPCEUP)
- Mestrado em Ciências da Educação / Ramo Educação e Lazer (FPCEUP)
- Doutorando (3º ano) do Curso Doutoral em Educação Artística (FBAUP) – à espera da defesa da tese.
- Profissionalização em Serviço para os Grupo 610 – M25, M28, M30 e M32 (Universidade Aberta)
- Membro da Direção Pedagógica da Escola de Música de Perosinho entre 1997 e 2019
- Diretor Artístico da Escola de Música de Perosinho entre 2010 e 2019
- Gestor de projetos pedagógicos e artísticos nacionais e internacionais, nomeadamente projetos Comenius e Erasmus+ (desde 2009): “Língua-Mãe”, “Water my Flower”, “THEIA”, PerFORMAR”, “Iberia”, “Classical Rap”.
- Coordenador de Projetos com Instituições do Departamento de Educação e Investigação da Casa da Música (2005)
- Investigador colaborador do NEA – I2ADS / FBAUP
- Fez parte da equipa responsável pelo “Estudo de Avaliação acerca do Impacto das Políticas Públicas no Campo da Educação Artística em Portugal” (2015)
- Criador e diretor artístico dos Projetos “Fosso de Orquestra/Orquestra do Teatro”
- Formador acreditado (acreditado pelo Conselho Científico-Pedagógico de Formação Contínua – Registo de acreditação: CCPFC/RFO-36046/15)